quarta-feira, 28 de abril de 2010

Reli.

As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: "Como é a voz dele? A que é que ele gosta mais de brincar? Faz colecção de borboletas?" Em vez disso, perguntam: "Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa? Quanto ganha o pai dele?" Só então julgam ficar a saber quem é o vosso amigo. Se contarem às pessoas crescidas: "Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa com gerânios nas janelas e pombas no telhado...", as pessoas crescidas não conseguem imaginá-la. Precisam de lhes dizer: Hoje vi uma casa que custou 100 mil contos". Então já são capazes de a admirar: "Mas que linda casa!"


Embora os escritos permaneçam, a sua interpretação varia...

Diferentes pessoas, com diferentes origens, com diferentes contextos sociais, em diferentes fases da vida podem ter diferentes interpretações de um mesmo livro. Isto é óbvio....

O que não é tão óbvio é que a mesma pessoa possa ter diferentes interpretações de um mesmo livro.

Esta é a minha relação com o "Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry...
Li o livro várias vezes em diferentes fases da minha vida.
Quando não me apetecia ler...
Quando me apetecia ler...
Quando não tinha nada para fazer...
E quando não tinha tempo para não fazer nada...
Quando fui criança,
pré-adolescente,
adolescente,
jovem,
e agora...

Em todas estas vezes adorei o livro e em todas estas vezes descobri alguma coisa...
Sobre o livro... Sobre mim...  Sobre o mundo...

Como criança, adorei a história de um menino com muitos sonhos, que viajava pelo mundo.
Como pré-adolescente, identifiquei-me com o menino incompreendido. Embora os nossos problemas não fossem os mesmos, era-o o estado de espírito.
E agora, partilhei com o narrador a obssessão das pessoas crescidas com diversas inutilidades, futilidades. Eu, que sou quase uma pessoa crescida apercebi-me que me podia tornar uma delas.

Esta é, para mim, a magia do Principezinho... A capacidade de se reinventar.
Não conheço muitos livros assim. Não conheço muitos livros tão simples, com a capacidade de transmitir tantas e tão complexas mensagens.

Obrigada Antoine de Saint-Exupèry...

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