quarta-feira, 28 de abril de 2010

As Intermitências da Morte.


'O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher.'



José Saramago é um escritor mediático.

Ateu assumido, defensor acérrimo de ideias da extrema esquerda, a sua carreira literária está marcada por polémicas.

Viu a proposta para prémio de um livro seu vetada por Sousa Lara, Ministro da Cultura de então. Pelo mesmo livro ganhou o Prémio Nobel da Literatura, sendo que é o único escritor português a ter conseguido tal feito.

Exilado em Espanha, é admirado por uns, detestado por outros, não sendo indiferente a nenhuns.

Com uma personalidade peculiar, também a obra de Saramago tem o seu quê de peculiaridade.

Sempre num tom satírico, o autor trata temas como o Estado, a religião, o poder... a morte. Este foi o primeiro livro de Saramago que li. Iniciei-o a medo. O que ouvira de Saramago não tornava a sua escrita muito apelativa. "Impossível", "intragável", "ilegível" são algumas das características que vi associarem ao autor. As minhas expectativas não eram muitas, portanto dizer que Saramago as superou não é suficiente. Já referir-me ao autor como um dos meus preferidos é um reconhecimento que se aproxima mais do impacto que Saramago teve em mim. 

Confesso que decidi ler o livro, para conhecer o único vencedor do Nobel de Literatura português ... Porque ficava bem dizer que conhecia a sua obra e porque queria ser capaz de entrar numa discussão subordinada ao tema: “Achas que Saramago foi um justo vencedor?”. "Intermitências da Morte" fala de morte, mas não faz a abordagem comum e melancólica a que estamos habituados.

A escrita do autor é, na verdade, muito estimulante. Utilizando uma expressão popular e pedindo desculpas a Orwell por ignorar a sua origem, rio-me a “bandeiras despregadas” com José Saramago. 

Goso de Saramago porque este não tenta parecer um intelectual, utilizando o maior número de palavras com mais de seis letras numa frase. Pelo contrário, utiliza uma linguagem muito simples, carregada de ironia e sarcasmo, enquanto “vai fazendo” a sua crítica à sociedade.

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